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domingo, 13 de julho de 2008

A Liderança Ética



Neemias foi um servo do Senhor a quem foi designada uma grande e urgente tarefa: a reconstrução das muralhas de Jerusalém. Não havia tempo a perder. Ele, porém, foi capaz de paralisar a obra e agir energicamente na busca de uma solução imediata, quando percebeu , que o compromisso com Deus e a pureza espiritual do povo estavam sendo maculados em nome do “progresso”.

“Jogar pesado” contra seus próprios cooperadores, e isso publicamente, seria taxado de radicalismo em nossos dias; mas, como veremos, tal confronto tornou-se salvação moral e espiritual daquele povo.
Quando os israelitas regressaram do exílio, possuíam uma “boa conta bancária” (Ed 1:5-11), pois os judeus que lá ficaram contribuíram com muitos bens, além de cavalos, mulas e camelos (Ed 2:66-67), que eram muito caros na época. Também o rei Ciro deu-lhes boa oferta em ouro e prata bem como os tesouros pertencentes ao Templo de Salomão.
Passaram-se 90 anos, e muita coisa mudou, principalmente porque gastaram grandes somas na reconstrução das muralhas, em suas casas e em suas plantações. A maioria do povo estava ficando cada vez mais pobre, enquanto uns poucos privilegiados estavam enchendo seus bolsos à custa da miséria alheia. O pior é que esses tais eram justamente aqueles de quem Neemias mais esperava colaboração: os nobres e os magistrados.
Os pais de família deixaram de buscar seus próprios interesses e foram trabalhar sem salário, na reconstrução das muralhas. Usaram suas economias para o sustento das famílias, e tinham que pegar dinheiro emprestado com agiotas para comprar comida para os filhos. A economia da época era baseada na agricultura. Como as lavouras ficavam fora da proteção das muralhas, precisavam enfrentar os saqueadores vindos das fronteiras e, às vezes, perdiam tudo devido aos gafanhotos ou à falta de chuva. Para não perder o serviço, tinham de tomar empréstimos a juros muito altos e hipotecar as terras como garantia. Algumas das filhas do povo já haviam sido entregues à escravidão para pagamento de dívidas, (Ne 5).
Tanto os moradores do campo como os da cidade tinham de pagar impostos ao governo persa. Como já estavam empobrecidos, acabavam sendo obrigados a pedir dinheiro emprestado para cobrir mais este compromisso. Não tendo mais com que pagar, eram forçados a tornarem-se escravos de seus credores.
A Bíblia condena agiotagem. Aprendemos com Jesus que “mais bem-aventurado coisa” é dar do que receber. Aprendemos que tudo o que temos, na verdade, pertence a Deus, e que o melhor investimento é socorrer um irmão necessitado.
Por um momento, e com muita tristeza, Neemias parou para refletir sobre a tragédia do povo (fome, dívidas, humilhação). Ele percebeu que a base do problema e o mal que de fato estava gerando toda aquela miséria era a exploração que irmãos estavam infligindo contra irmãos.
Neemias sabia que os nobres e magistrados poderiam rejeitar sua repreensão, se fosse corrigi-los à sós. Por isso decidiu paralisar todo o trabalho nas muralhas, convocou uma assembléia geral e repreendeu os exploradores do povo, publicamente. Para isso ele usou dois argumentos:
Vocês se desviaram do propósito de Deus. Ele nos libertou e nos trouxe aqui para sermos um povo livre e soberano, mas a ganância de vocês está levando muitos à escravidão. Deus abençoou-os com abundância para que repartam, emprestem, socorram e liderem com amor, mas a avareza tornou-se seu senhor. Deus os colocou como modelo para os benefícios do povo; mas vocês se tornaram mercenários, tiranos e opressores. Arrependam-se! Verifiquem quão más testemunhas estão sendo para os incrédulos nossos inimigos. Arrependam-se!
Vocês se desviaram da minha liderança. “conto com vocês para liderar este povo e não dominar sobre eles. Sigam meu exemplo, pois, sendo eu governador, nunca vivi em luxúria (Ne 5:14); tenho repartido os meus bens com que necessita (Ne 5:10) e nunca me aproveitei da desgraça alheia para meu benefício (Ne 5:16). Sigam meu exemplo!
Toda liderança deve seguir o exemplo de seu líder maior (Jesus), sem o qual nossos passos se desviam, nossos planos se frustram e nossos atos se corrompem.
É extraordinário e surpreendente observar os resultados produzidos por uma atitude “radical”, tomada dentro da vontade de Deus: 1- Decidiram repartir o pão sem avareza; 2- decidiram cancelar a dívida dos juros; 3- decidiram devolver as hipotecas.
Para que não houvesse dúvidas, Neemias fez com que jurassem publicamente, na presença dos sacerdotes. O arrependimento sincero gera resultados surpreendentes, mas a sua permanência depende do compromisso que é assumido com Deus.
Nenhuma obra, ainda que realizada para o Senhor, é mais importante que o compromisso e a fidelidade que devemos a Deus. Se preciso for, melhor é para o “projeto” acertar os desvios provocados pelos “conflitos de interesses”. A obra deve ser feita, mas com integridade. Cabe ao líder a responsabilidade de providenciar que assim seja, ainda que por isso seja taxado de radical. Os resultados finais provarão que tinha razão em agir assim.
Nos dias de hoje, ética tem sido confundida com a arte de não desagradar ao próximo. Tememos a alcunha de intolerantes e nos tornamos permissivos a todo tipo de comportamento que fere aos princípios bíblicos e atrapalham a obra de Deus. Na verdade, a ética é, antes de tudo, convicta. E o indivíduo ético jamais despreza os princípios e valores que aprendeu. E a escola de ética do cristão é, ou pelo menos deveria ser a Bíblia. Ela é relativa no que diz respeito a tempo e espaço, cujos versículos têm servido para dar direção à Igreja de Cristo ao longo de sua história, entre diferentes povos e nações, cada um com suas particularidades ocasionadas até mesmo pela localização geográfica. No entanto, ela jamais seria essa “bússola” se os seus valores não fossem absolutos. Uma das premissas da ética cristã sempre foi a da imutabilidade dos padrões de valores de Deus, no entanto, até esses valores têm sido relativizados. As palavras de Paulo alertam para a tentação da adulação como meio de tentar fazer uma obra que é de Deus. “Pois busco eu agora o favor dos homens, ou o favor de Deus? ou procuro agradar aos homens? se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo. Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado não é segundo os homens; porque não o recebi de homem algum, nem me foi ensinado; mas o recebi por revelação de Jesus Cristo.” (Gal 1:10-12). Lembremos também, que quem convence o mundo do pecado, da justiça e do juízo, é o Espírito Santo (Jo 16:8)

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